Parte dos representantes da região se unem contra equipamento na comunidade, onde ainda faltam serviços básicos
Esgoto. Pedestres caminham sobre a água suja na Via Ápia, uma das principais da comunidade / Eduardo Naddar |
Saneamento, coleta de lixo, educação e saúde são itens considerados básicos para a sobrevivência em qualquer lugar. Na Rocinha, porém, segundo alguns moradores, eles estão sendo preteridos por algo que não deveria ser prioridade: o teleférico. O arquiteto Luiz Carlos Toledo, responsável pelo Plano Diretor da Rocinha, aprovado em 2007, concorda. Segundo Toledo, o equipamento, que não estava previsto no projeto inicial, elaborado com o auxílio da comunidade, não trará grande benefício:
— Esta proposta de transporte, além de ser mais cara, por usar uma tecnologia complexa e importada da França, tem alto custo de manutenção. Ela será prejudicial ao comércio local, pois tirará o movimento das ruas. Uma solução seria a implantação de bondes sobre trilhos, que têm tecnologia nacional, já foram implementados em outras regiões com grande êxito e se adaptam melhor às inclinações do morro.
A falta de saneamento é uma das principais queixas dos residentes da Rocinha. Parte deles se organiza para enviar uma carta ao governo questionando a necessidade do teleférico. José Martins, dos grupos Rocinha sem Fronteiras e Rocinha 100% Saneamento, diz que a população não vem sendo ouvida:
— Numa reunião realizada em 2011, onde foi apresentada a ideia do teleférico, os moradores presentes foram unânimes em rejeitar a proposta. Eles pediram saneamento. Dois anos depois, somos informados pela mídia de que o projeto será executado, mesmo sendo contra a vontade de quem mora aqui.
José Britz, presidente da Associação de Moradores de São Conrado (Amasco), faz coro:
— Sofremos com a falta de coleta de lixo e de estrutura da comunidade. Tudo gera um reflexo negativo para o bairro. A construção do teleférico beneficiará somente o turismo. Isso interessa à comunidade como um todo?
Leonardo Rodrigues, presidente da associação de moradores União Pró Melhoramento dos Moradores da Rocinha, no entanto, diz que quem vive na parte alta da comunidade vê o projeto com bons olhos:
— Idosos, cadeirantes e pessoas que precisem se locomover com urgência serão beneficiados — exemplifica.
Ocimar Santos, presidente da associação Rocinha.Org, confirma que as opiniões estão divididas:
— Para alguns, o teleférico será um diferencial; já quem participa de movimentos sociais acha que a construção é um desperdício de capital.
A Empresa Estadual de Obras Públicas (Emop), vinculada à Secretaria estadual de Obras e responsável pelo projeto, esclarece que a obra está inclusa no PAC. Além do teleférico, que terá seis estações e duas linhas, integrando-se ao metrô, haverá obras de saneamento, abastecimento e esgotamento sanitário, aberturas de ruas e relocação de famílias em áreas de risco. O total de investimentos dos governos federal e estadual será de R$ 1,6 bilhão. Os prazos ainda serão definidos. A Secretaria de Obras frisa ainda que melhorar a acessibilidade é um dos pilares do PAC, e que este é um pedido de muitos moradores da Rocinha.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/bairros/moradores-da-rocinha-se-unem-contra-construcao-do-teleferico-8582995#ixzz2W8brQsgc |
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