segunda-feira, 22 de abril de 2013

Casas de chefes do tráfico vão se transformar em espaços comunitários


  • Projeto que começará pela Rocinha será levado a 32 favelas com UPP
  • No Dona Marta, imóvel de Marcinho VP será utilizado
  • Nova realidade. Policiais militares observam a Favela da Rocinha em casa que já foi da mulher do traficante Nem Ana Branco / O Globo
    RIO - Símbolos do poder de criminosos no passado, as casas dos chefes do tráfico devem virar, em breve, espaços comunitários em 32 favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Previsto para começar em julho, um projeto da Secretaria municipal de Esportes e Lazer, com o Instituto Pereira Passos (IPP), apresentado ao governo estadual, abrirá as portas destes imóveis para transformá-los em academias de ginástica, salas de aulas de artes marciais, alongamento e xadrez. Dois já foram visitados e escolhidos: a casa de 400 metros quadrados que pertenceu à mulher de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e a de 150 metros quadrados, que foi de Marcinho VP, no Dona Marta. Todas as casas, hoje transformadas em pontos de apoio de policiais militares, continuarão sendo coabitadas por PMs, e deverão ter, ainda, alguns cômodos cedidos para aulas de cursos profissionalizantes.
    — Esses locais deixarão de ser símbolos do tráfico para virar símbolos de formação. Já entramos em contato com o Senac e vamos fechar uma parceria para que também tenhamos cursos — diz Índio da Costa, acrescentando que a prefeitura, através do IPP, ainda está fazendo um levantamento da situação legal de cada imóvel e que somente os desapropriados serão usados.
    Na Rocinha, primeiro local que deve ser beneficiado, a casa de três andares onde vivia Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, localizada na Cachopa, foi a escolhida. Com 400 metros quadrados divididos em três andares, o imóvel tem piscina, churrasqueira, pelo menos duas suítes — uma delas com banheira de hidromassagem — e um terraço. Desde abril, o lugar foi transformado em um dos pontos de apoio dos policiais da UPP.
    — Essa é uma casa construída com o dinheiro do tráfico. Nada mais justo que um projeto para que a população possa usá-la. Uma iniciativa assim faz com que o policial se sinta pertencendo a comunidade — destaca o major Edson Santos, comandante da UPP.
    Entre os moradores, no entanto, a iniciativa ainda é vista com precaução. Como se trata de uma ocupação de um imóvel de traficante, a maioria prefere não dar sua opinião sobre o assunto.
    No Dona Marta, em Botafogo, o endereço eleito para a ocupação do projeto da prefeitura já está ocupado pela PM desde 2001. A casa de 150 metros e três andares foi de Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP. Antigo Posto de Policiamento Comunitário (PPC), atualmente a casa serve como ponto de observação da UPP. No terraço, de onde se tem uma visão do Pão de Açúcar e da Lagoa, estão instaladas antenas da internet sem fio e uma das câmeras de longo alcance que monitoram a comunidade, pacificada desde o fim de 2008.
    — Essa é uma casa menor que a da Rocinha, mas a ideia é a mesma, aproveitar para atividades de jogos — acrescenta o secretário Índio da Costa.
    Antônio Guedes, diretor cultural e social da associação de moradores do Santa Marta, ainda não foi informado do projeto, mas ressalta que a comunidade precisaria de uma área de lazer para a parte baixa da favela:
    — Mas tudo que é feito para benefícios para comunidade nós apoiamos.
    O comandante da UPP do Dona Marta, tenente Gabriel Cavalcante acha que o ideal seria que a casa, por ser pequena, virasse uma academia de ginástica, com aparelhos de musculação.
    —A própria UPP tem projetos de criação de árbitros de futebol e aulas de artes marciais. Se fizessem uma academia, onde estes atletas pudessem fazer musculação, seria ótimo, pois complementaria o que já existe — avalia.
    Segundo a presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), Eduarda La Rocque, a ideia de uso de casas do tráfico faz parte de um projeto de inclusão produtiva, que integra ainda as secretarias de Assistência Social, Saúde e Educação.
    — Desde agosto estamos fazendo um levantamento completo nas 32 comunidades pacificadas do Rio para identificarmos as necessidades. Nossa ideia é evitar que haja uma sobreposição de projetos — explica La Rocque.


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